O veterinário que a atendeu constatou uma subluxação toracolombar e o animal foi tratado com repouso, anti-inflamatórios e analgésicos. O proprietário fez todo o manejo prescrito, inclusive fisioterapia passiva e auxílio para que o animal urinasse. Agora, o animal voltou a andar, mas segundo o dono, de uma "forma esquisita", como se os membros posteriores só seguissem os anteriores.
Ao exame neurológico você constata:
- reações posturais - ausentes nos membros posteriores e presentes nos anteriores
- nervos cranianos normais,
- tônus nos membros posteriores normal
- reflexos normais nos membros anteriores
- cauda sem movimentação voluntária
- reflexo perineal e bulbocavernoso presente
- reflexos nos posteriores:
patelar aumentado, extensor cruzado presente, reflexo interdigital presente, sensibilidade superficial ausente, sensibilidade profunda ausente - conforme mostrado na foto abaixo.
- Explique o que está acontecendo com este animal.
- Qual o prognóstico para o retorno à locomoção normal?
Ótimo caso!
ResponderExcluirBem, o que está acontecendo com essa gatinha é o que a literatura chama de “caminhar espinhal”. Como o próprio nome diz, é um caminhar involuntário gerado por uma atividade reflexa segmentar da medula espinal, ou seja, a informação nervosa que permite a movimentação dos membros pélvicos não é consciente (não chega ao córtex cerebral), ela se limita apenas à porção da medula espinhal responsável pelas vias reflexas da ambulação destes membros. Por isso o proprietário cita que o animal caminha de “forma esquisita” e descreve bem o quadro dizendo que os membros pélvicos (“inconscientemente”) parecem acompanhar a movimentação dos membros torácicos. A prova da ausência de consciência do animal diante da movimentação dos seus membros é a ausência da dor profunda durante o exame neurológico. Segundo os autores o que explica e possibilita o CAMINHAR ESPINHAL é a plasticidade do tecido nervoso e a integridade dos segmentos medulares onde se origina a inervação da musculatura dos membros pélvicos.
A pesar de ser muito animador para o proprietário ver o seu animal se movimentando após semanas de paralisia, esse der ser informado que o prognóstico para o retorno à locomoção inteiramente normal é desfavorável.
Um grande Abraço a todos!
Felipe Purcell de Araújo
Méd. Veterinário Residente II em Clínica-Cirúrgica de animais de companhia da U.E.L.
É isso mesmo, professora Mônica?!
ResponderExcluirAlow!!!
ResponderExcluirSe não fosse isso ela não publicaria a resposta nesse mesmo blog...
Interessante...
ResponderExcluirEsta subluxação toracolombar ocorreu provavelmente entre as vértebras L1-L2, o que explica a hiperreflexia no reflexo patelar, sendo esta produzida pelo nervo femural, o qual emerge dos segmentos L3-5.O reflexo extensor cruzado indica lesão de NMS, pois o neurônio sensitivo do membro testado inibe a extenção do membro contralateral quando o paciente encontra-se em decúbito lateral.Esta inibição também esta relacionado com a via descendente do NMS, como citado acima.A cauda sem movimentação voluntária também confirma lesão pós L2(sendo seus movintos induzidos apartir de inervação sacral e coccigea).Os reflexos segmentares presentes(reflexo perineal, bulbocavernoso, flexor digital)podem iludir os propietários há respeito de um bom prognóstico, mas esta resposta apenas representa integridade reflexa caudal a subluxação.
O prognóstico desfavorável evidencia-se na ausência de sensibiliodade superficial e profunda, as quais são fibras desmielinizadas e de menor diâmetro, conferindo mais resintência do que as fibras superficiais. Então, mesmo após o período de medicação e repouso, observamos o animal ainda com ausência de sensibilidade profunda,não tenho dúvidas a respeito do prognóstico.
Parabéns pela iniciativa...Abraço
Rafael Muller da Costa
Acadêmico do semestre 6 da Faculdade de Medicina Veterinária da UFPel.