29 de mar. de 2007

LESÃO MEDULAR EM CÃES E GATOS

A lesão medular é uma ocorrência séria em seres humanos e animais, podendo comprometer irreversivelmente as funções motoras e sensoriais. Por se tratar de um problema de saúde pública na Medicina Humana (alto índice de acidentes de trânsito principalmente), muitas pesquisas são realizadas com o objetivo de encontrar uma substância que favoreça a regeneração do tecido nervoso, daí as pesquisas intensas que vêm sendo realizadas com células tronco entre outras.

Em um levantamento do número de casos atendidos pelo Projeto de Extensão em Neurologia Animal, no Hospital Veterinário da UEL, constatou-se que as fraturas/luxações da coluna vertebral e/ou o trauma medular tiveram uma incidência de 17% de todos os casos neurológicos atendidos.

Na Medicina Veterinária, alguns tipos de fraturas e luxações da coluna podem ser corrigidas através de cirurgias, com prognóstico variável para o retorno da locomoção, dependendo do grau de lesão que a medula tenha sofrido.
O ideal é a prevenção da ocorrência dese tipo de lesão, pois a maioria acontece quando os animais estão andando sozinhos pelas ruas e são atropelados ou sofrem algum tipo de agressão física.

Assim, em 2004 o Projeto, lançou um folheto de orientações contendo informações aos proprietários de animais.
Este folheto, cuja autora principal foi a acadêmica Letícia Tortola (hoje mestranda da FCAV - Jaboticabal), tem como objetivo explicar: a diferença entre coluna vertebral e medula espinhal, as causas de lesão medular, os sintomas, o que o proprietário deve fazer e a forma principal de prevenção da lesão medular.

Em caso de atropelamentos ou outros tipos de trauma com suspeita de lesão medular, o animal deve ser colocado sobre uma tábua ou suporte plástico, e fixado sobre a mesma com tiras de fita adesiva para evitar maiores danos à medula espinhal. O animal deve ser levado imediatamente ao veterinário.












28 de mar. de 2007

MEDULA ESPINHAL - NEUROANATOMIA

1. ESTRUTURA EXTERNA
A . CARACTERÍSTICAS GERAIS

É o tecido nervoso dentro do canal vertebral, de forma aproximadamente cilíndrica, que se estende da parte final do bulbo (na altura do forame magno do osso occipital) até o cone medular. No interior da medula observa-se o canal central, que contém líquor, e é a continuação do sistema ventricular do encéfalo.

É dividida em regiões de acordo com o grupo de nervos que se ligam a ela (cervicais, torácicos, lombares, sacral e coccígeos). É dividida ainda em segmentos. A medula espinhal do cão é composta por 36 segmentos: C8, T13, L7, S3, Co5. Um segmento medular é a porção da medula espinhal que dá origem a um par de nervos espinhais.

Existem oito pares de segmentos cervicais, mas sete vértebras cervicais. Isto ocorre porque o primeiro par de nervos cervicais emerge entre o atlas e o occipital. Este conhecimento é muito importante pois a localização das lesões se referem aos segmentos, não às vértebras.

Durante o desenvolvimento pós natal, o crescimento da coluna suplanta a medula , ocorrendo um alongamento das raízes nervosas, diminuição do ângulo que as raízes formam com a medula,
afastamento dos segmentos medulares das vértebras correspondentes e conseqüentemente a formação da cauda eqüina. A cauda eqüina é o conjunto de nervos sacrais e coccígeos, localizados ao redor do filamento terminal e cone medular.

O diâmetro da medula não é uniforme, havendo áreas mais largas , como as intumescências cervical (C6 a T1) e lombar (L5-S1), que apresentam maior número de corpos celulares que suprem os membros torácicos e pélvicos respectivamente. Já a medula espinhal torácica é bem estreita. O limite caudal da medula situa-se na altura da 5a (6a) vértebra lombar nos cães e 6a (7a) vértebral lombar nos gatos. Isto varia de acordo com a raça do animal.

Caudalmente à intumescência lombar a medula se afina formando o cone medular, que contém os segmentos remanescentes sacrais e caudais. Na altura de L7, observa-se no final da medula o filamento terminal, um filamento esbranquiçado composto por células ependimárias e gliais, recoberto por pia máter, que perfura o saco dural e continua caudalmente até o sacro, fixando a medula na coluna vertebral

A superfície da medula apresenta sulcos longitudinais, que a percorrem em toda a extensão, algumas relacionadas as conexões com as raízes ventral (motora) e dorsal (sensorial) dos nervos espinhais.

2. ESTRUTURA INTERNA DA MEDULA ESPINHAL

Ao corte transversal da medula espinhal observa-se a substância cinzenta disposta internamente e a branca externamente. Contém as vias nervosas que se dirigem ao encéfalo (sensoriais) e as vias que vem do encéfalo (motoras) em direção aos músculos flexores e extensores.


-SUBSTÂNCIA CINZENTA: formato semelhante a uma borboleta, contém corpos celulares dos neurônios, células da glia e fibras nervosas conectivas. É dividida em colunas:
-coluna ventral(n. motores)
-coluna dorsal (n. de 2a ordem das vias sensitivas - interligam diferentes segmentos medulares entre si)
-substância cinzenta intermédia: (interneurônios ou neurônios de associação - participam de reflexos e circuitos locais)

-SUBSTÂNCIA BRANCA: contém axônios que fazem conexão com as partes rostrais e caudais do sistema nervoso, células da glia que produzem mielina e suportam os axônios

-Apresenta 3 funículos de cada lado:
· ventral: entre fissura mediana anterior e sulco lateral anterior
· lateral: entre sulco lateral anterior e lateral posterior
· dorsal: entre sulco lateral posterior e sulco medial posterior

-cada funículo contém diversos feixes de fibras (tratos e fascículos) conduzindo impulsos nervosos em sentido descendente ou ascendente. Tratos são grupos de axônios com funções similares. Os tratos são nomeados de acordo com a origem e o destino.


Tratos descendentes (motores): Podem ser divididos em dois grupos: tratos relacionado aos movimentos voluntários (flexores) e tratos ligados a postura e suporte de peso (extensores).

  • córtico espinhal: origina- se no córtex motor e desce para influenciar o corno ventral via um interneurônio. Conduz impulso motor voluntário. É cruzado


  • rubro espinhal: origem no núcleo rubro do mesencéfalo – locomoção. É cruzado
    vestíbulo espinhal: origem no bulbo (núcleo vestibular), estimula NMI aumentando tônus extensor ipsilateral e aumentando o tônus flexor contralateral. Manutenção da postura. Não cruza


  • retículo espinhal: estimula NMI aumentando tônus extensor. Atividade motora voluntária
    tratos ascendentes: levam informações sensitivas: dor, temperatura, pressão, tato e propriocepção

tratos ascendentes: levam informações sensitivas: dor, temperatura, pressão, tato e propriocepção

  • Fascículo Grácil e cuneiforme (fibras largas e mielinizadas) - propriocepção consciente, tato, dor

  • Tr. espino talâmico anterior (fibras com pouca ou nenhuma mielina) e tr. espino talâmico lateral - Dor profunda


  • Tr. Espinoreticular - Dor profunda


  • tr. espino cerebelar ventral e tr. Espino cerebelar dorsal - propriocepção inconsciente

27 de mar. de 2007

primeira aula do projeto integrado de ensino e pesquisa em neurologia veterinária

NEUROANATOMIA VETERINÁRIA
O SISTEMA NERVOSO

1. INTRODUÇÃO


A) FUNÇÕES: receber informações dos ambientes externo e interno; regular as funções motoras somáticas; regular as funções viscerais; regular comportamento e emoções; adaptar o organismo às condições do momento; memória e aprendizado.
B) TECIDO NERVOSO: formado por neurônios e células da glia
C) NEURÔNIO: célula mais importantes do ponto de vista funcional. É a unidade funcional do sistema nervoso. Recebe informações de outros neurônios, integram a informação e envia mensagens para outros neurônios efetores.
-dendrito: prolongamento múltiplo e ramificado. Especializado na recepção de informações,
-corpo celular(pericário): contém o núcleo celular e citoplasma com organelas.
-axônio: prolongamento delgado e extenso - especializado na transmissão de informações sob a forma de impulsos elétricos.
-mielina: substância lipídica, de cor amarelo esbranquiçada, que aumenta a velocidade de condução do impulso nervoso.
-sinapses: local de comunicação entre os neurônios, entre o terminal de um axônio de um neurônio e o dendrito de outro.

D)NEURÓGLIA
-astróglia: suporte estrutural, processo de cicatrização.
-oligodendróglia: formação de mielina.
-micróglia: fagocitose.
-epêndima: revestem as cavidades dos ventrículos.

2.CONCEITOS NEUROANATÔMICOS

A) FIBRA NERVOSA: é o axônio nú ou envolto por bainha de mielina.
B) SUBSTÂNCIA BRANCA: tecido nervoso formado por neuróglia e fibras nervosas mielinizadas.
C) SUBSTÂNCIA CINZENTA: tecido nervoso formado por corpos celulares e fibras nervosas amielínicas.
D)CÓRTEX: é a substância cinzenta na superfície dos hemisférios cerebrais e do cerebelo.
E) NÚCLEO: conjunto de corpos celulares de neurônios dentro do SNC.
F) GÂNGLIO: conjunto de corpos celulares de neurônios fora do SNC.
G) NERVO: é um cordão de coloração esbranquiçada, constituído por fibras nervosas, protegidas por envoltórios de tecido conjuntivo.
H) ARCO REFLEXO: é a base do funcionamento do sistema nervoso. Permite que os estímulos deflagrem respostas adequadas. Envolve 3 neurônios: sensitivo (aferente), associação, motor (eferente).

4. SISTEMA NERVOSO CENTRAL

4.1. MEDULA ESPINHAL:
Estrutura externa: cilindro de tecido nervoso contido no canal vertebral e envolvido por membranas conjuntivas (meninges). Seu calibre não é uniforme, havendo as intumescências cervical e lombar (local de onde se originam os plexos braquial e lombossacro), e em sua extremidade caudal o cone medular. Existem sulcos longitudinais percorrendo a medula espinhal. Estes sulcos são o local de origem dos nervos espinhais. A raiz ventral nasce do sulco lateral ventral e a raiz dorsal do sulco lateral dorsal. A porção da medula que dá origem a um par de nervos espinhais é chamada de segmento medular. A medula é mais curta que o canal vertebral, terminando ao nível da vértebra L6. Abaixo deste ponto observamos apenas as raízes dos nervos espinhais que em conjunto formam a cauda equina.


Estrutura interna: Observa-se uma região onde predominam corpos de neurônios, constituindo a substância cinzenta disposta internamente, no formato que lembra a letra H, e uma região onde predominam fibras mielinizadas, constituindo a substância branca, disposta externamente. A substância branca contém diversos feixes de fibras que conduzem os impulsos nervosos em sentido descendente ou ascendente.

Funções: é um órgão integrados de reflexos e de passagem de impulsos nervosos. Os feixes de fibras ligam diferentes porções da medula entre si e com estruturas supra medulares.




4.2. TRONCO ENCEFÁLICO
Estrutura externa: é a porção do SNC imediatamente rostral à medula espinhal. Divide-se em bulbo, ponte e mesencéfalo. No tronco encefálico tem origem 10 dos 12 pares de nervos cranianos.
Bulbo: é a continuação direta da medula espinhal. No bulbo tem origem os pares de nervos cranianos VI à XII. Os nervos abducente (VI), facial (VII) e vestibulo coclear (VIII) estão na porção rostral, na junção com a ponte, enquanto que os nervos glossofaríngeo (IX), vago (X), acessório (XI) e hipoglosso (XII) estão na porção caudal do bulbo.
Ponte: é a porção intermédia do tronco encefálico. Na ponte localiza-se a emergência do nervo trigêmio (V).
Mesencéfalo: localiza-se rostralmente à ponte. É o local de emergência do nervo oculomotor (III).

Estrutura interna: apresenta alguma semelhança com a medula espinhal, pois a maior parte da substância cinzenta se dispõe internamente, fragmentada transversalmente e longitudinalmente, dando origem a muitos núcleos que tem relação com os nervos cranianos e formação reticular (controle da atividade elétrica cortical).

Funções: área de passagem para feixes sensitivos e motores. Contém núcleos de nervos cranianos: relacionados à deglutição, mastigação, sensibilidade da face, mímica facial, etc. Contém ainda centro respiratório, centro cardiovascular bulbar, SARA (consciência) e outros núcleos relacionados a funções motoras.

4.3. CEREBELO
Estrutura externa: localizado dorsalmente ao tronco encefálico e caudalmente à região posterior do cérebro. Contém uma porção mediana, o vérmis, e duas massas laterais, os hemisférios cerebelares.
Estrutura interna: A substância cinzenta se dispõe externamente, formando o córtex cerebelar, e internamente encontramos a substância branca (corpo medular). No interior do corpo medular existem aglomerados de corpos de neurônios (substância cinzenta), os núcleos centrais do cerebelo.
Funções: centro controlador da motricidade e tônus muscular, manutenção do equilíbrio e postura, propriocepção inconsciente.

4.4. CÉREBRO: é a porção mais rostral e mais desenvolvida do SNC. Formado pelo diencéfalo e telencéfalo.

Estrutura externa:
situado nas paredes do terceiro ventrículo. Contém 4 regiões cerebrais: tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. Os nervos ópticos (II) emergem do quiasma óptico, estrutura pertencente ao hipotálamo.

Funções:
-hipotálamo: controle do SNA, regulaçào da sede, fome, sono, temperatura, comportamento, funções endócrinas (hipófise)
-tálamo: importante para os processos sensoriais: nocicepção, propriocepção
-epitálamo: funções endócrinas (gl. pineal)
-subtálamo: manutenção da consciência.

4.4.2. TELENCÉFALO:
Estrutura externa: formado pelos dois hemisférios cerebrais, separados entre si pela fissura longitudinal do cérebro. Tem uma superfície irregular, onde observamos sulcos, que delimitam giros ou circunvoluções cerebrais. A superfície de cada hemisfério pode ser dividida em lobos. Cada lobo leva geralmente o nome do osso suprajacente, existindo assim os lobos frontal , parietal, temporal e occipital. Na face inferior do lobo frontal encontramos o trato olfatório, que tem na sua porção anterior o bulbo olfatório, de onde nasce o nervo olfatório (I).
Estrutura interna: observa-se a presença de uma fina camada de substância cinzenta situada externamente, o córtex cerebral. Internamente ao córtex observa-se o centro branco medular, no interior do qual estão presentes aglomerados de substância cinzenta, os núcleos da base.
Funções: o córtex cerebral recebe um grande número de fibras aferentes. Além disso cada região tem uma função. Como exemplo podemos citar as seguintes áreas: motora (lobo frontal), sensorial (lobo parietal), visual (lobo occipital), auditiva (lobo temporal), olfatória.
Já os núcleos da base estão relacionados à manutenção do tônus muscular e controle da atividade motora.

5. MENINGES, VENTRÍCULOS E LÍQUOR

5.1. VENTRÍCULOS
: o SNC dos vertebrados é oco, pois é derivado embriologicamente de uma estrutura tubular. Assim observamos no interior da medula um canal central, e no encéfalo quatro cavidades, os ventrículos. Os dois primeiros, conhecidos como ventrículos laterias se localizam simetricamente no interior dos hemisférios cerebrais. O 3o ventrículo é mediano, e parte do diencéfalo constitui sua parede. Já o 4o ventrículo ocupa uma porção entre o tronco encefálico e o cerebelo. No interior dos ventrículos encontramos o plexo coróide, estrutura especializada na produção de líquor.

5.2. MENINGES: Tanto a medula como o encéfalo são envolvidos pelas meninges.
Medula espinhal: a meninge mais externa e mais espessa é chamada dura máter. Entre ela e as vértebras existe um espaço ocupado por gorduras e veias, o espaço extradural ou epidural. A segunda meninge é a aracnóide, seguida pela mais interna, que é a pia máter. A aracnóide separa-se da dura máter por um espaço virtual, o espaço subdural. Já entre a aracnóide e a pia máter existe um espaço maior, chamado subaracnóide, por onde circula o líquor.
Encéfalo: a dura máter está justaposta internamente aos ossos do crânio, não existindo ai o espaço extradural. Abaixo da dura máter e dela separada pelo espaço subdural está a aracnóide, que por sua vez se separa da meninge mais interna, a pia máter, pelo espaço subaracnoídeo. Este espaço é amplo, e nele circula o líquor.


5.3. LÍQUOR: é um fluido aquoso e incolor encontrado no interior dos ventrículos e no espaço subaracnóide. É produzido a partir do sangue, pelos plexos coróides no interior dos ventrículos. Depois de circular no interior dos ventrículos o líquor chega ao espaço subaracnóide através de aberturas encontradas no 4o ventrículo. Do espaço subaracnóide o LCR retorna ao sangue, após ser reabsorvido pelas granulações aracnoídeas.
As principais funções do líquor estão relacionadas à: proteção mecânica do SN, por ter um mecanismo eficiente no amortecimento de choques; proteção biológica (distribuição de elementos de defesa como leucócitos e anticorpos) .









6. BIBLIOGRAFIA
http://vanat.cvm.umn.edu/index.html
BRAUND, K.G. Clinical syndromes in veterinary neurology. St. Louis, Mosby, 1994. 477p.
DE LAHUNTA, A. Veterinary neuroanatomy and clinical neurology . Philadelphia, W.B. Saunders, 1984. 471p.
EVANS, H.E. Miller's anatomy of the dog. 3 ed, Philadelphia, W.B.Saunders, , 1993. 1113 p.
HOERLEIN, B.F. Canine neurology. 2.ed. Phyladelphia, W.B. Saunders,1978, p.280-95
MACHADO, A.B. Neuroanatomia funcional. Rio de Janeiro, Atheneu, 1988. 292 p.