19 de set. de 2020

Desenvolvimento de um protótipo de cage intervertebral lombossacro para cães

 Development of a lumbosacral intervertebral cage prototype for dogs

Pesquisa Veterinária Brasileira 40(7):546-553

Raíra C. Dias , Ana Carolina Tsatsakis & Mônica V. Bahr Arias

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RESUMO

Vários procedimentos cirúrgicos visam descomprimir e/ou estabilizar a articulação lombossacra (LS) de cães; no entanto, a técnica de fusão lombar, usando um cage intersomático combinado com um enxerto ósseo, é a mais indicada e utilizada na medicina humana. Não há implante específico disponível para aplicação na articulação lombossacra canina. Assim, neste estudo foi realizada a mensuração do espaço do disco intervertebral lombossacro de cães de raças grandes, para verificar se algum modelo de cage usado na medicina humana poderia ser usado no espaço intervertebral L7-S1 de cães. O segundo objetivo foi desenvolver um protótipo de cage lombossacro para cães. Foram utilizadas dez colunas lombossacras provenientes de cadáveres de cães adultos com peso entre 20 e 35kg. Os cães vieram a óbito por razões não relacionadas a este estudo. As dimensões do corpo vertebral e o espaço intervertebral L7-S1 ocupado pelo disco intervertebral foram medidos por radiografias laterais e ventrodorsais e por tomografia computadorizada nos cortes dorsal, sagital e transversal. Também foram realizadas mensurações das peças anatômicas nos planos sagital e transversal. Após a mensuração dos discos intervertebrais, foram obtidas as seguintes medidas médias dos discos L7-S1: altura 12,23mm, espessura dorsal 3,3mm, espessura central 4mm, espessura ventral 5,5mm e largura 24,74mm. Os modelos de cage lombar humano das marcas LDR, Baumer Orthopaedics, Stryker, Synthes e Vertebral Technologies, Inc. não possuíam dimensões adequadas para os cães. Cages de estabilização cervical das marcas B-Braun e Stryker também foram avaliados e apresentaram medidas semelhantes às encontradas neste estudo; no entanto, devido à sua forma quadrangular, a possibilidade de serem introduzidos cirurgicamente através das abordagens disponíveis para a articulação entre L7-S1 em cães sem lesionar a cauda equina ou a raiz L7 é pequena. Um modelo de cage foi então desenvolvido usando-se o software de modelagem 3D. Foi projetado para inserção via laminectomia dorsal nas porções laterais do espaço intervertebral. Para evitar a lesão da cauda equina, o modelo de implante foi desenvolvido para ser colocado lateralmente à linha média. A superfície do cage é serrilhada para evitar o uso do parafuso de travamento, evitando-se lesões adicionais às estruturas nervosas. As superfícies serrilhadas também foram projetadas para evitar a migração do cage e promover estabilidade. O protótipo permite a colocação do enxerto no espaço intervertebral circundante, fundamental para a fusão através da integração entre o cage e as placas vertebrais terminais, bem como para o crescimento ósseo entre e ao redor do implante. Também foram considerados estudos em seres humanos que mostraram que as regiões laterais das placas vertebrais terminais suportam uma carga maior. São necessários estudos biomecânicos e in vivo do modelo desenvolvido para avaliar o grau real de distração, mobilidade e a taxa de fusão a longo prazo entre L7 e S1 e seu possível impacto nas unidades motoras adjacentes, quando combinado ou não com técnicas de fixação dorsal.

ABSTRACT

Several surgical procedures aim to decompress and/or stabilize the lumbosacral (LS) joint of dogs; however, the lumbar interbody fusion technique, by using a cage combined with a bone graft, is the most indicated and used in human medicine. No specific implant is available for application to the canine lumbosacral joint. Thus, this study measured lumbosacral discs in large dogs, determined whether a human cage model could fit the dogs’ L7-S1 intervertebral space, and developed a LS cage prototype for dogs. Ten cadaveric lumbosacral spines from adult dog weighing 20-35kg were used. The dogs had died for reasons unrelated to this study. The vertebral body dimensions and the L7-S1 intervertebral space occupied by the intervertebral disc were measured by lateral and ventrodorsal radiographs and by computed tomography in the dorsal, sagittal, and transverse views. Measurements were also taken of the anatomical specimens in the sagittal and transverse planes. After measuring the intervertebral discs, the following mean measures were obtained for L7-S1 discs: height 12.23mm, dorsal thickness 3.3mm, central thickness 4mm, ventral thickness 5.5mm, and width 24.74mm. The human lumbar cage models from brands LDR, Baumer Orthopedics, Stryker, Synthes, and Vertebral Technologies, Inc. and cervical stabilization cages from the brands B-Braun and Stryker were evaluated and were found to be unsuitable for large dogs. Cervical human cages had measurements similar to those found in this study; however, due to their quadrangular shape, the possibility of being introduced surgically through the surgical accesses available for the articulation between L7-S1 in dogs without injuring the cauda equina or the L7 root is small. A cage model was then developed using 3D modelling software. It was designed for insertion via dorsal laminectomy in the lateral portions of the intervertebral space. To avoid cauda equina lesion, the implant model was developed to be placed laterally to the midline. The cage surface is serrated to prevent using the locking screw to fix it, thus avoiding further injury to nerve structures. The serrated surfaces are also designed to avoid cage migration and promote stability. The prototype allows graft placement in the surrounding intervertebral space, which is fundamental for fusion through integration between the cage and the endplates as well as for bone growth between and around the cage. It was also considered studies on humans showing that the lateral regions of the endplates support a more considerable load. Biomechanical and in vivo studies on the developed model are necessary to evaluate the actual degree of distraction, mobility and the long-term rate of fusion between L7 and S1 and its possible impact on the adjacent motor units, combined or not with dorsal fixation techniques.

7 de set. de 2020

Long-term clinical complications associated with the use of polymethyl methacrylate in spinal stabilization of dogs and cats: case series

Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 41, n. 5, suplemento 1, p. 2453-2462, 2020

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Gabriel Antonio Covino Diamante, Paulo Vinicius Tertuliano Marinho, Isis dos Santos Dal-Bó, Thales Bregadioli, Fernanda Paes, Renato Otaviano Do Rego, Bianca Fiuza Monteiro, Viviane Sanchez Galeazzi, Aline Schafrum Macedo, Cássio Ricardo Auada Ferrigno

Abstract

Vertebral and spinal cord trauma are common conditions in small animal practice and often result in vertebral fractures/luxation (VFL) with concomitant spinal cord laceration, concussion, compression, or ischemia. These lesions have several clinical presentations that may vary from moderate to severe pain and partial to total loss of motor, sensory, and visceral functions, which may result in death or euthanasia. Our purpose is to describe five cases (four dogs and one cat) of complications secondary to the use of bone cement for vertebral stabilization. The patients, between five months and four years of age and weighing between 1.4 and 12.2 kg, were referred to the Small Animal Orthopedics and Traumatology Service of the Veterinary Hospital of the College of Veterinary Medicine and Animal Science of the University of São Paulo. They had a history of post-operatory polymethyl methacrylate (PMMA) reactions (such as drainage or cement exposure due to infection or implant failure) in periods from 9 to 18 months after undergoing spinal osteosynthesis. Surgical implant removal occurred in 80% of the patients (4/5). Complete remission was not observed in the patient with residual implants. The association of pins/screws and PMMA is a versatile osteosynthesis technique and is applicable in all spinal regions. However, delayed complications can occur, which could require additional surgical procedures. Despite the small number of cases included in this study, one can infer that complications related to the use of bone cement in spinal surgery can occur in the long term and should be highlighted during the implant choosing process for vertebral osteosynthesis in small animals.

RESUMO

O trauma vertebromedular é uma afecção comum na rotina clínica de pequenos animais e resulta, muitas vezes, em fraturas e luxações vertebrais (FLV) associadas à laceração, concussão, compressão ou isquemia da medula espinhal. Essas lesões apresentam sinais clínicos que variam de dor moderada a grave, acompanhada por perda parcial ou total das funções motoras, sensoriais e viscerais, podendo resultar no óbito ou na indicação de eutanásia. O objetivo deste trabalho é descrever cinco casos de complicações inerentes o uso de cimento ósseo para estabilização vertebral em quatro cães e um gato. Os pacientes possuíam idades variando entre cinco meses a quatro anos, peso entre 1,4 e 12,2kg e foram atendidos no Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, com histórico de reações cutâneas ao polimetilmetacrilato (PMMA), como tratos drenantes ou exposição do cimento decorrente de infecção ou soltura precoce do implante, em períodos que variaram de nove à 18 meses após serem submetidos a osteossíntese da coluna vertebral. Foi realizada a remoção cirúrgica desses implantes em quatro pacientes e mantida a estabilização prévia em um caso. Houve resolução total do quadro de infecção nos pacientes em que se removeu o PMMA associada ao tratamento clínico, e remissão parcial no paciente em que o implante não pode ser removido. A utilização do cimento ósseo associado a parafusos ou pinos é uma técnica versátil e aplicável em todas as regiões da coluna vertebral, no entanto complicações tardias são possíveis, sendo necessário muitas vezes procedimentos cirúrgicos adicionais para a resolução do problema. Apesar da pequena quantidade de casos relatados, foi possível observar que complicações relacionadas ao uso do cimento ósseo na coluna vertebral podem ocorrer no médio ao longo prazo e devem ser consideradas no processo de escolha dos implantes para osteossíntese vertebral em pequenos animais